pode-se estender este fio e sobre ele caminhar como em corda bamba se avança, olhos à frente, pés no campo de visão, acreditando num ponto de pouso logo ali, do outro lado. que, neste caso, não há.
pode-se também enrolar o fio, amarrá-lo, e o percurso então é outro, confundindo-nos: roleta russa com bala nenhuma no tambor, e passamos ilesos, ou o tambor todo carregado e a cada disparo a morte incômoda, e nos reviramos a buscar um culpado. mas fomos nós que nos pusemos na mira desta arma, cada tiro um cuidado com a palavra, esculturas plenas de arestas.
velhas canções que insistem na memória, poemas mal traduzidos, versos quebrados, argumentos de filme, instruções de uso, boletins de ocorrência? o que são estes poemas? são poemas? o que eles não são?
um cão fareja, rosna, dentes arreganhados. se nos entregamos às palavras, ele ataca, morde algumas vezes o calcanhar, no mais das vezes, estraçalha a jugular. (Veronika Paulics)
Sobre a autora
Evelyn Blaut-Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, em 1981. É pesquisadora e autora de ensaios. As dezenove regras do romance policial é o seu primeiro livro de ficção.