O Senhor Cogito

R$70,00

Autor: Zbigniew Herbert
Bilíngue: Português/Polonês
Trad.: Piotr Kilanowski
Plaquete – 22×30 cm – 32 págs
ISBN 978-85-66423-60-0

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  1. Seja pelo fato de poetas gozarem de uma posição privilegiada nos países da Europa Central e Oriental, seja pela qualidade de sua poesia, Zbigniew Herbert conseguiu se tornar na Polônia, sob o domínio soviético, um poeta nacional, cujos versos eram citados por multidões e a muitos traziam ao mesmo tempo um consolo e uma possibilidade de refletir sobre si mesmos, o sistema e o mundo. Embora a Polônia, uma terra de poetas, exiba o privilégio de ter dois entre os quatro grandes nomes de sua poesia da segunda metade do século XX laureados com prêmio Nobel – Czesław Miłosz e Wisława Szymborska – no próprio país era Herbert que contava com maior popularidade. Depois da queda do comunismo, a sua poesia foi (e ainda é) utilizada politicamente pelos partidos que constroem a sua imagem como defensores da polonidade e da resistência nacional no mundo globalizado. Com a morte do poeta em 1998, este procedimento tornou-se até mais abusivo, pois ele já não podia protestar. Diante do uso político da poesia de Herbert, o seu apelo popular diminuiu e a sua face universal ficou em evidência nos estudos e na percepção do universo letrado polonês. Este aspecto universal, que fez com que Herbert ficasse conhecido fora das fronteiras da Polônia, é o testemunho do ser humano preso nas malhas da história, refletindo sobre a própria humanidade e as posturas que podem e devem ser tomadas diante do avanço da desumanização.
    Entre os vários temas que a obra do poeta descortina, um dos mais importantes é a questão do sofrimento inerente à vivência do ser humano, independentemente da época ou lugar. Para o autor, a experiência do sofrimento provoca a empatia e a solidariedade com os outros seres sencientes. A poesia torna-se uma ponte para o outro e ajuda a superar a deserção do mundo dos valores humanistas e da herança da civilização, oriunda da vida diante do extremo dos totalitarismos e igualmente presente no mundo globalizado. Mais ainda: a poesia que gira em torno de uma das mais viscerais experiências humanas – o sofrimento – transforma-se em uma das formas de resistência do humanismo, um exercício contínuo de empatia. A poesia compreendida assim volta a ter a função de doadora de sentido, volta a ser uma arte que aproxima os seres humanos deles mesmos e dos outros, suprindo os abismos da indiferença por recontar a vivência que é comum a todos. (Piotr Kilanowski)

Sobre o autor

Zbigniew Herbert (1924-1998), poeta, dramaturgo e ensaísta, é um dos grandes nomes da poesia polonesa e um dos mais importantes poetas do séc. XX. Embora tenha iniciado sua carreira literária entre os 19 e 20 anos, só publicou tardiamente, época do lançamento de seu primeiro livro Struna światła (Corda de Luz), em 1956, por se recusar a aderir a estética do realismo socialista, obrigatória na Polônia, na época do stalinismo. Durante o período de maior repressão política na Polônia, opôs-se à censura do regime stalinista, que o afastou da vida pública, e dedicou-se exclusivamente à literatura. O primeiro reconhecimento de sua obra foi através das traduções de Czesław Miłosz e Peter Dale Sco , em 1968. Alcançou reconhecimento internacional nos anos 80, com a tradução do livro Um bárbaro no jardim (Barbarzyńca w ogrodzie), de 1962). Sua poesia dialoga com mitos, com a história, com outras obras literárias. O Senhor Cogito é o retrato de um intelectual nos “tempos de indigência”.