No Brasil, a experiência de livros-objeto nasce nitidamente do encontro entre poetas e artistas visuais nos períodos Concreto e Neoconcreto (final dos anos 50 e começo dos anos 60). A poesia concreta foi fundamental para sublinhar aspectos formais e sonoros das palavras, fazendo com que o texto se descolasse de uma sintaxe tradicional para outra sintaxe, poética-visual. Como desdobramento das ideias desse período, uma das parcerias mais inovadoras e de fundamental importância para as artes gráficas e suas relações com a poesia no Brasil, Augusto de Campos produziu com o artista e teórico Julio Plaza uma série de objetos-poemas tridimensionais que se movimentam à manipulação, os POEMÓBILES.
Sobre os autores
Augusto Luís Browne de Campos (São Paulo – 1931) é um poeta, tradutor, ensaísta e crítico de literatura e música. Com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari é um dos fundadores da Poesia Concreta. Em 1955, no segundo número da revista Noigandres, publicou uma série de poemas em cores, Poetamenos, considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia concreta no Brasil. O verso e a sintaxe convencional eram abandonados e as palavras rearranjadas em estruturas gráfico-espaciais, algumas vezes impressas em até seis cores diferentes, sob inspiração da Klangfarbenmelodie (melodia de “cores sonoras”), teorizada pelo compositor austríaco Arnold Schönberg e representada principalmente pelo compositor Anton Webern. Desde os anos 50, sua obra é incluída em exposições e mostras pelo mundo (Museu Guggenheim, NY; Galeria Maddox, Londres; Document Art Gallery, Buenos Aires, 1.ª Bienal de Lyon, e Europalia, Bruxelas, entre outros. Em antologias internacionais, sua poesia conta em publicações como Concrete Poetry: an International Anthology, organizada por Stephen Bann (London, 1967), Concrete Poetry: a World View, por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968); Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams (NY, 1968). A maioria dos seus poemas acha-se reunida em Viva Vaia, 1979; Despoesia, 1994; Não, 2003 (Prêmio de Livro do Ano, Fundação Biblioteca Nacional); Outro, 2015. Em tradução para outra línguas, as mais completas são: Poètemoins: Anthologie, traduzida para o francês por Jacques Donguy; Poemas, traduzida para o espanhol por Gonzalo M. Aguilar, Buenos Aires. Sua contribuição para a cultura literária brasileira à língua portuguesa é imensurável. Augusto de Campos verteu ao português Ezra Pound, James Joyce, Maiakóvski, Rilke, e. e. cummings, Borges, William Blake, August Stramm, Mallarmé, Paul Valéry, Emily Dickinson, John Donne, Lewis Carroll, os trovadores provençais Arnaut Daniel e Raimbaut d’Aurenga, Guido Cavalcanti e Dante, em primorosas traduções que recriam a arte do verso desses poetas comparável aos originais.
Julio Plaza González (Madrid, 1938 – São Paulo, 2003) foi artista multimedia, escritor, gravador, professor e pesquisador de meios eletrônicos, iniciou sua formação em Madri, na década de 50. Cursou a École de Beaux-Arts (Escola de Belas Artes de Paris). Chegou ao Brasil em 1967, para participar da 9ª Bienal Internacional de São Paulo, integrando a representação espanhola. Com bolsa de estudos oferecida pelo Ministério da Relações Exteriores do Brasil, ingressou na Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI, no Rio de Janeiro. No final década de 1960-(68-69), produziu, em São Paulo, com o editor Julio Pacello um Livro-Objeto, em serigrafia com recortes, um exemplo típico da obra aberta. De 1969 a 1973, foi professor de linguagem visual e artes plásticas no Departamento de Humanidades da Universidad de Puerto Rico, onde realiza esculturas no espaços abertos do Campus, inúmeras serigrafias e organiza o que foi provavelmente a primeira exposição de arte postal internacional: Creación, Creation, com a presença de cerca de 80 artistas de vários cantos do mundo. Retorna ao Brasil em 1973 e torna-se professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP e da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap. Em 1975, publica com Augusto de Campos os livros Caixa Preta e Poemóbiles. Foi grande colaborador do Prof. Walter Zanini, então diretor do MAC, UPS, tendo organizado duas emblemáticas exposições internacionais de arte postal: Prospectiva (1974) e Poéticas |Visuais(1977). Sempre um estudioso das novas mídias e da teoria da arte, J. Plaza publica livros sobre video-texto e a tradução intersemiótica, e também inúmeros artigos e textos com grande rigor, nos quais manifesta uma visão crítica a respeito dos rumos que o sistema das artes e do mercado vão tomando no passar dos anos. É autor de Tradução Intersemiótica (Ed. Perspectiva, 1987). Publicou, entre outros livros: Plaza-Objetos (1969), Poética-política (1976), Arte e videotexto (XVII bienal de São Paulo), V-ideografia em videotexto (1983).